Donald Trump ainda não assumiu a presidência, mas suas declarações nas redes sociais indicam um plano ambicioso para desmantelar a ordem internacional que os Estados Unidos ajudaram a construir nas últimas décadas, sem a intenção de oferecer algo melhor em seu lugar.
Recentemente, Trump fez declarações polêmicas, sugerindo a invasão do Panamá, oferecendo-se para adquirir a Groenlândia da Dinamarca e insinuando que o Canadá se tornasse um estado americano. Essas propostas inéditas refletem uma postura agressiva que não era vista há anos entre líderes americanos.
Tanto o Canadá quanto a Dinamarca são aliados tradicionais dos EUA e, se os Estados Unidos agirem contra eles, ambos podem invocar o artigo 5º da carta da Otan, que estabelece que um ataque a um membro da aliança é um ataque a todos.
Esses comentários alimentam especulações sobre a relação de Trump com a Rússia, embora não haja evidências concretas que sustentem a teoria de que ele seria um agente de Putin. Contudo, é compreensível questionar como essa postura pode beneficiar os interesses de um líder que busca desestabilizar a Otan.
A visão compartilhada entre Trump e Putin parece ser a de um mundo centrado no equilíbrio de poder, desprezando normas internacionais em favor da força militar e financeira. Essa perspectiva, no entanto, não promove a autodeterminação dos povos, mas abre espaço para a agressão de nações mais poderosas contra as mais fracas.
Se a visão de Trump prevalecer, a ordem internacional, essencial para enfrentar desafios globais como pandemias e crises financeiras, poderá ser substituída por um cenário onde potências violentas dominam suas regiões sem restrições internacionais.
Modificar equilíbrios geopolíticos não é uma tarefa simples, e Trump enfrentará obstáculos significativos para realizar sua ambição de expandir a influência americana.
Além da geopolítica, Trump também está promovendo um aumento do protecionismo econômico, considerando a possibilidade de substituir o Imposto de Renda por tarifas elevadas sobre produtos importados.
Um dos fatores que mitigou a severidade da crise de 2008 em comparação com a de 1929 foi a eficácia da Organização Mundial do Comércio, que ajudou a evitar surtos de protecionismo. No entanto, a abordagem de Trump pode reverter esses avanços.
Caso as tarifas sejam implementadas, a inflação americana deve aumentar, visto que a necessidade de taxar produtos importados implica que estes não são mais baratos. Com uma inflação maior, o Federal Reserve pode ser compelido a elevar as taxas de juros, impactando negativamente a economia global. Isso poderia comprometer os progressos na reorganização da economia mundial após a pandemia.
Ainda é incerto até onde essas propostas serão levadas, mas a radicalização das ideias de Trump ressalta as falhas das instituições americanas ao não coibir sua tentativa de golpe em 6 de janeiro de 2021. Um golpista anistiado tende a sonhar alto, e as consequências de suas ações podem ser profundas.