A relação entre brasileiros e portugueses é marcada por uma longa história de empatia, compartilhamento cultural e linguístico. O laço histórico, o idioma comum e a paixão pelo café criam conexões que são raras em outras nações, independentemente da proximidade geográfica.
Esses aspectos, combinados com a busca por melhores oportunidades financeiras e um cotidiano mais seguro, explicam a migração significativa de muitos brasileiros para Portugal.
Contudo, uma parte crescente da sociedade portuguesa resiste à aceitação do multiculturalismo em desenvolvimento no país, manifestando hostilidade, especialmente em relação à comunidade brasileira.
Essas visões negativas estão baseadas em ideias infundadas de que os brasileiros ocupam vagas de emprego essenciais para os portugueses, aumentam a escassez de moradia e impactam negativamente a economia do país.
Entretanto, as assertivas contra a comunidade brasileira não se sustentam. Os brasileiros que se estabelecem em Portugal frequentemente preenchem lacunas deixadas por portugueses que emigraram para outras partes da Europa, encontrando-se, em grande parte, em setores de crescimento, como o turismo.
A crise de habitação em Portugal deve-se a problemas demográficos locais, como a superconcentração populacional nas cidades costeiras, e à drástica limitação do parque habitacional público, que corresponde a apenas 2% do total, uma das menores taxas da Europa.
Quanto à noção de que o multiculturalismo prejudica a economia portuguesa, exemplos como o da Suíça, com uma economia robusta, demonstram que a diversidade cultural pode ser um motor de prosperidade, e não um obstáculo.
Além disso, segundo dados do Alto Comissariado Para as Migrações, Portugal tem uma alta proporção de cidadãos expatriados, com mais de 2 milhões de portugueses vivendo fora do país, o que representa cerca de 20% da população. As principais nações de acolhimento incluem o Reino Unido, Suíça, França e Alemanha.
A ironia é que muitos destes portugueses têm familiares que emigraram em busca de melhores condições, semelhante ao que muitos brasileiros desejam, e mais uma vez se observa o ciclo de discriminação dentro da sociedade.
É crucial promover uma maior aceitação entre todos os cidadãos nas nossas comunidades, fortalecer a integração e fomentar relações harmoniosas que reflitam a diversidade cultural, distantes de estigmas que impedem o progresso.
Assim, é essencial utilizar a proximidade cultural entre Brasil e Portugal para construir uma sociedade cooperativa e pacífica, onde a nacionalidade não seja um empecilho à convivência.
É surpreendente que enquanto na Suíça, com suas quatro línguas oficiais, se alcançam bem-estar e paz social, nós, com mínimas variações de sotaque, ainda lutamos para estabelecer um entendimento pleno.