A Alemanha enfrenta uma nova fase de incerteza política após o Bundestag declarar, por 394 votos contra 207 e 116 abstenções, que não confia mais em Olaf Scholz como primeiro-ministro. Esse processo desencadeia uma campanha eleitoral curta e desafiadora, com novas eleições marcadas para 23 de fevereiro.
Scholz, em uma sessão histórica do Parlamento, enfatizou a importância da governabilidade e criticou a oposição em um discurso contundente de 25 minutos. “Política não é um jogo”, declarou, apontando para a complexidade de unir partidos diferentes na coalizão governamental, que inclui os Verdes e o FDP. O primeiro-ministro acusou Lindner, do FDP, de “sabotagem” ao seu governo.
Documentos revelados sugerem que o FDP planejou a derrubada da coalizão previamente, aliviando temporariamente a pressão sobre Scholz, que reconheceu a dificuldade de governar três partidos distintos. Durante seu discurso, ele destacou a necessidade urgente de investimentos em defesa em face da invasão russa na Ucrânia, clamando por um “choque de investimentos”.
Scholz criticou o “freio de dívida”, apontando que essa política impede o progresso econômico e é vista como uma “negação da realidade” por muitos líderes empresariais e sindicatos. Ele defendeu uma modernização do sistema fiscal, diante do crescimento da dívida em outros países do G7.
A oposição, representada por Friedrich Merz da CDU, afirmou que o governo é responsável pela crise econômica, enquanto o líder dos Verdes desafiou a viabilidade das propostas conservadoras, que envolvem cortes de impostos sem esclarecimento sobre a origem do financiamento.
O primeiro-ministro também abordou o tema da imigração, afirmando que os refugiados desempenham papel crucial em setores como a saúde e que a política deve ser pautada por ações concretas, não apenas por discursos. Alice Weidel, da extrema-direita AfD, criticou a imigração, levantando preocupações sobre a situação atual do país.
No contexto do apoio militar à Ucrânia, Scholz clarificou que não entregará mísseis Taurus, uma decisão que pode aumentar a complexidade do envolvimento da Alemanha no conflito e complicar a situação política liderada por Merz, apelidado de “chanceler da guerra” por críticos.
As pesquisas de opinião mostram que, independente do vencedor das eleições, formar uma nova coalizão será essencial. A combinação mais provável é entre CDU e SPD, mas Scholz já rejeitou a ideia de ser vice-ministro. A AfD, que figura em segundo lugar nas pesquisas, não é vista como opção para coalizão por nenhum dos outros partidos.
Analistas antecipam negociações difíceis para a formação do novo governo, com a expectativa de que o novo Parlamento inicie seus trabalhos entre maio e junho, o que pode impactar as previsões econômicas da Alemanha para 2025.