O destaque inicial de “Filho de Boi” é a impressionante paisagem do sertão: uma terra árida, com gado esquelético, mas que emana um encanto singular. A vegetação rarefeita e amarelada, contrastando com o céu azul, cria uma atmosfera que intrigará o público.
Luiz Carlos Vasconcelos, no papel do pai do jovem João, se destaca com uma interpretação poderosa. Ele retrata um pai excessivamente rigoroso e violento, cujas atitudes estão conectadas ao abandono da mãe de João, uma questão central do enredo. A relação entre os personagens nos leva a refletir sobre as consequências desse comportamento, destacando a habilidade de Vasconcelos em se sublimar no papel.
Contudo, o enredo apresenta algumas fragilidades. João é um adolescente isolado, severamente exigido por seu pai em suas tarefas relacionadas ao gado. Apesar de seu interesse crescente pelo circo que visita a região, suas amizades nascem em um contexto de solidão, levantando questões sobre sua educação e socialização.
A falta de desenvolvimento em torno da escolaridade de João limita uma possível reflexão sobre a infância, um aspecto que poderia ter agregado complexidade à narrativa. Assim, o filme falha em explorar a escola como um espaço de conflitos criativos, como visto em obras clássicas sobre a infância.
O circo se torna o cenário de maior relevância na trama, onde João encontra um ambiente acolhedor, apesar da pobreza dos artistas. Esta nova dinâmica contrasta com sua vida anterior e permite que o filme explore a expressividade enigmática de seu protagonista, evocando lembranças de clássicos do cinema.
A indiferença de João diante das adversidades e dos afagos da trupe circense se torna uma característica marcante, conferindo profundidade ao seu personagem. “Filho de Boi” emerge como uma obra respeitável que, embora não traga inovações significativas, acrescenta à discussão sobre a desconexão entre o cinema e seu público no Brasil contemporâneo.