As declarações recentes do presidente Lula sobre as eleições na Venezuela geraram reações de surpresa entre setores da oposição que esperavam que o Brasil intensificasse a pressão pela transparência no processo eleitoral. Milos Alcalay, ex-embaixador no Brasil e respeitado diplomata, expressou suas preocupações sobre o novo posicionamento de Lula.
“Estamos muito preocupados com a mudança de Lula,” afirmou Alcalay. “Parece que Lula agora é o porta-voz de Celso Amorim, ao invés do contrário. Suas declarações parecem ser extremamente pró-Maduro e minimizam o problema,” acrescentou.
O presidente brasileiro declarou não ver irregularidades no processo eleitoral venezuelano e sugeriu que aqueles que contestam os resultados busquem a Justiça.
“Aplaudimos a posição anterior de Lula, que pediu a Maduro para respeitar os resultados eleitorais e evitou ameaças de violência. Essa postura teve um impacto significativo em outras partes da esquerda democrática na América Latina,” destacou Alcalay.
Com relação às discrepâncias entre as declarações de Lula e Amorim, Alcalay explicou: “Amorim fez comentários que contrastam fortemente com a posição de Lula, o que é decepcionante porque parecia estar fora de sintonia com o presidente.” Alcalay é membro da comissão de política internacional da oposição e tem um entendimento profundo das relações bilaterais entre Brasil e Venezuela.
Porém, apesar das preocupações, Alcalay observou que “Lula não reconheceu oficialmente a vitória de Maduro, o que é um ponto positivo,” e ressaltou a importância do apoio brasileiro à democracia na Venezuela.
Ele demonstrou receio quanto ao impacto das declarações de Lula nas negociações de Brasília com México e Colômbia sobre a situação venezuelana, especialmente após o chanceler colombiano reiterar a necessidade de divulgação das atas eleitorais.
Celso Amorim esteve em Caracas na última semana, de onde trouxe informações coletadas em reuniões com representantes da oposição, o governo, observadores independentes e enviados da ONU. Após os resultados eleitorais indicarem a reeleição de Maduro, ele declarou que nem o governo nem a oposição apresentaram provas concretas de fraude.
Alcalay criticou a abordagem contida de Amorim, afirmando que sua postura foi inadequada para o papel que desempenha como enviado de Lula e para sua longa carreira diplomática.
Por outro lado, ele descartou a possibilidade de a oposição estabelecer um governo paralelo, referindo-se a isso como “não sendo um ‘Guaidó 2”. Alcalay alertou que as atuais condições eleitorais são fraudulentas, mas afirmou que há provas suficientes para contestar os resultados.
Alcalay falou sobre a parceria entre Edmundo González e María Corina Machado, chamando-a de um “binômio exitoso”. Ambos têm experiência significativa na política venezuelana e têm conseguido atrair apoio popular.
Nesta segunda-feira, Amorim se reuniu com Edmundo González, enquanto María Corina não estava presente. Ele se mostrou relutante em se encontrar com ela, preferindo interagir com aqueles que têm informações relevantes.