Um grupo de mulheres transgêneros no sul de Jacarta se preparou de maneira especial para a visita do Papa Francisco à Indonésia na quinta-feira (5). Vestidas com penas, seda, glitter e cílios longos, cada uma delas exibia um rosário pendurado no pescoço. “O Papa merece nossa melhor roupa”, afirmou uma das participantes.
Para muitas mulheres trans que enfrentam rejeição social na Indonésia, a Igreja Católica representa um espaço acolhedor. O Papa Francisco, com suas mensagens de aceitação e apoio à comunidade LGBTQIA+, é visto como um verdadeiro defensor.
No abrigo onde residem, dez mulheres trans se acomodaram em dois carros alugados rumo ao Estádio Gelora Bung Karno, onde o Papa presidiria uma missa. Apesar de não terem ingressos, seu desejo era pelo menos avistar o líder religioso do lado de fora.
A empolgação do grupo destaca a relação positiva entre a comunidade trans e a Igreja Católica em Jacarta, uma realidade que contrasta fortemente com as posturas mais conservadoras observadas em outros países. A mensagem de acolhimento de Francisco ressoa em diversas partes do mundo católico, longe do Vaticano.
“Quando recebemos Francisco como Papa, percebi que Deus estava nos ouvindo”, declarou uma líder comunitária e católica devota. “Este não é apenas um Papa, mas Deus nos visitando”.
O reverendo de uma paróquia local confirmou a narrativa de Francisco que pede para não julgar. “Temos que ouvir”, enfatizou ele, reiterando a busca pela dignidade humana e pelo respeito nas paróquias.
Embora os católicos representem uma minoria na Indonésia, várias mulheres trans que não pertenciam à igreja foram batizadas nos últimos anos, demonstrando a crescente inclusão. O esforço do arcebispo local em promover um acolhimento mais caloroso está moldando essa relação.
“Com frequência, participo de atividades com elas”, disse um padre, enfatizando a sua conexão com a comunidade. Contudo, as mulheres trans ainda enfrentam discriminação e dificuldades sociais, muitas vivendo em situação de vulnerabilidade.
Mensalmente, mais de 50 mulheres trans se reúnem para orações na catedral, enquanto outras participam de aulas organizadas pela igreja. Uma das integrantes compartilhou que, ao frequentar a igreja, se sente aceita e encorajada em sua jornada religiosa.
Além das reuniões de oração, reuniões de aconselhamento católico são realizadas, permitindo que as participantes compartilhem suas vivências. O apoio da liderança religiosa tem sido crucial para a inclusão e empoderamento dessa comunidade.
Apesar das doutrinas da igreja que se opõem à transição de gênero, Francisco tem incentivado um acolhimento mais amplo para os católicos LGBTQIA+. Recentemente, a igreja reafirmou a possibilidade de batismos para pessoas trans e condenou leis que criminalizam a homossexualidade.
No entanto, a relação entre a doutrina e as solicitações de inclusão é complexa, com relatos de resistência dentro da hierarquia eclesiástica. Uma proposta de encontro entre uma líder da comunidade trans e o Papa foi recusada por episcopados locais.
O desapontamento foi palpável durante a visita do Papa, especialmente quando a polícia impediu que o grupo de mulheres expressasse sua celebração em frente ao estádio. Apesar das adversidades, uma integrante expressou sua esperança de que, mesmo na ausência, possa se conectar com o Papa em seus sonhos.