Em um mundo marcado por conflitos incessantes, a sociedade parece estar perdendo sua essência. Essa reflexão fundamenta o tema escolhido pelo Papa Francisco para sua nova encíclica, que visa revitalizar a devoção e a fé dos católicos em relação ao Sagrado Coração de Jesus.
Intitulada “Dilexit nos” (ele nos amou), a carta foi lançada no Vaticano. Com 220 parágrafos, esta é a quarta encíclica de Francisco, que assumiu o papado em 2013. Sua primeira encíclica, coassinada com o Papa Bento 16, foi publicada no mesmo ano.
“Diante de novos conflitos, com a cumplicidade e indiferença de diversos países, é possível perceber que a sociedade global está perdendo o seu coração”, declarou o papa, evitando citar conflitos específicos.
Além das guerras, Francisco menciona “desequilíbrios socioeconômicos, consumismo e o uso anti-humano da tecnologia” como questões críticas que evidenciam a necessidade de recuperar a importância do coração, considerado o centro espiritual e o lugar onde decisões significativas são tomadas.
Em outro trecho, o Papa enfatiza que “somente a partir do coração nossas comunidades conseguirão unir e pacificar diferentes intelectos e vontades”. Ele descreve o Coração de Cristo como um símbolo de êxtase, entrega e encontro, permitindo relações saudáveis e felizes entre as pessoas.
Em uma coletiva de imprensa, o arcebispo e teólogo italiano Bruno Forte destacou a relevância da encíclica em tempos de crises, mencionando especificamente a situação na Ucrânia e na Terra Santa. “Esse documento nos desafia a buscar alternativas que vão além da lógica do mais forte, enfrentando o drama vivido por tantas pessoas com coragem e escolhas solidárias,” afirmou.
Diferente das encíclicas anteriores, como “Laudato si” sobre a crise ambiental e “Fratelli tutti” sobre fraternidade durante a pandemia, a nova carta afasta-se de questões sociais e foca em propostas mais espirituais, embora mencione temas contemporâneos como inteligência artificial e consumismo.
O Papa observa que “os algoritmos da era digital revelam que nossos pensamentos e decisões são frequentemente previsíveis e manipuláveis, ao contrário do que acontece com o coração”.
Nas conclusões, ele expressa preocupação com a dignidade humana, afirmando que parece depender do poder aquisitivo. “Estamos sendo estimulados a acumular e nos distrair, presos a um sistema que nos impede de ver além de nossas necessidades imediatas,” escreveu Francisco.
Ele também se voltou para a própria Igreja, que se prepara para o desfecho do Sínodo da Sinodalidade, com a publicação do documento final prevista para sábado. O Papa ressaltou que a Igreja não deve “substituir o amor de Cristo por estruturas ultrapassadas ou fanatismos que ofuscam o amor gratuito de Deus, que liberta e alegra os corações e nutre as comunidades”.