Em 1611, Johannes Kepler sugeriu que a melhor maneira de organizar laranjas, de forma semelhante à prática dos feirantes, era utilizando arranjos hexagonais e camadas sobrepostas. No entanto, essa conjectura permaneceu sem prova até que foi resolvida em 2017, mais de quatro séculos depois.
Embora muitos possam questionar a relevância dessa descoberta, Marcelo Viana, em seu livro “Histórias da Matemática: da Contagem nos Dedos à Inteligência Artificial”, revela que até mesmo pesquisas teóricas podem dar origem a tecnologias inovadoras, mesmo que, em alguns casos, isso leve séculos para acontecer.
O autor destaca que o problema do empacotamento de esferas, exemplificado pelas laranjas, hoje é crucial na detecção e correção de erros na transmissão de dados. Além disso, as investigações sobre números primos foram essenciais para a evolução da criptografia moderna, impactando áreas como astronomia e física.
Viana, que ocupa o cargo de diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada no Rio de Janeiro, enfatiza que a utilidade imediata não deve ser o único critério para conduzir a ciência. Contudo, é fundamental que os pesquisadores considerem as consequências práticas de suas investigações.
“Histórias da Matemática” apresenta uma edição revisada e atualizada de colunas escritas por Viana desde 2017.
Os textos abordam temas variados, incluindo machismo na ciência, o papel da matemática na tomada de decisões coletivas e o funcionamento dos algoritmos que regem muitos aspectos de nossa vida cotidiana.
“Acredito que, em algum nível, nós, humanos, não funcionamos de maneiras tão diferentes de um computador. Não tenho um chip dentro da minha cabeça, mas tenho outro tipo de máquina de calcular e acredito que ela, usando outros materiais, não é fundamentalmente diferente de um computador. A vantagem da inteligência humana sobre a inteligência artificial não é um assunto tão claro para mim.”
A série de entrevistas conta com intelectuais e autores de não-ficção, abordando suas obras e temas de pesquisa a cada duas semanas, contribuindo para um profundo diálogo sobre conhecimento contemporâneo.
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