No dia 29 de setembro, a Sala São Paulo recebeu a emocionante estreia da ópera “Amor Azul”, uma obra que marca um novo capítulo na trajetória de Gilberto Gil, aos 82 anos. A apresentação lotou o teatro e ressaltou a profunda conexão de Gil com a música e a espiritualidade, oferecendo uma narrativa de amor revestida de lirismo e sensibilidade.
Desenvolvida ao longo de 2007 em colaboração com o maestro italiano Aldo Brizzi, “Amor Azul” já havia sua estreia internacional em Paris há dois anos e agora brilha sob a execução da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo, do Núcleo de Ópera da Bahia e do Coro Acadêmico da Osesp.
A narrativa da ópera gira em torno do amor entre Krishna, interpretado por Josehr Santos, e Radha, vivida por Luciana Pansa. O papel de narrador é assumido por Gil, que representa Jayadeva, o deus da poesia, com Graça Reis interpretando Sakhi, a confidente de Radha, entre outros personagens que enriquecem a história.
Durante a apresentação em São Paulo, a ópera foi realizada em formato de concerto, o que destacou a riqueza musical da composição. Misturando canções e elementos operísticos, a obra rompe as barreiras entre gêneros, realçando a interação entre palavra e música.
Gilberto Gil expressou que a intenção foi integrar a essência operística ao universo da música popular, ressaltando que sua experiência na música popular se entrelaça com os elementos clássicos trazidos por Brizzi. “A tarefa era trabalhar com aquilo que no mundo da obra clássica se chama de árias”, comentou o compositor.
A obra reflete um diálogo entre as tradições orientais e ocidentais, incorporando influências do hinduísmo, uma fonte rica de inspiração que permeia a composição. “Amor Azul” entrega uma experiência musical em dois atos que destaca a fusão entre a música erudita e a arte popular, utilizando escalas orientais e uma rica percussão afro-brasileira.
Além disso, a riqueza rítmica da apresentação é um dos seus principais atrativos. Embora não represente ritmos específicos de forma literal, as influências do baião e do samba sutilmente se manifestam, enquanto a bossa nova se destaca em um momento em que Gil se apresenta com seu violão.
A performance viu os solistas líricos, que estavam todos microfonados, apresentando um estilo menos expansivo, transportando a voz para um tom quase conversacional, facilitando a compreensão do libreto por todo o público presente.
O libreto, criado pelo designer Rogério Duarte, falecido em 2016, foi inspirado em obras sagradas e na rica literatura indiana, abordando a relação emblemática entre Krishna e Radha, que simboliza a profundidade e a cumplicidade do amor.
Com uma trajetória que mescla ritmos nordestinos e influências do rock, Gil, neste novo trabalho, transforma seu violão em uma orquestra sinfônica. “Amor Azul” não é apenas a primeira ópera de Gil, mas também uma possível última fronteira a ser cruzada por este ícone da música brasileira em sua jornada artística.