As montadoras japonesas Honda e Nissan estão considerando uma fusão estratégica para otimizar custos e fortalecer sua competitividade em um setor automotivo em rápida transformação.
No entanto, fusões entre empresas do mesmo país não garantem o sucesso, e o histórico da indústria automotiva está repleto de tentativas frustradas. Integrar duas grandes operações de manufatura globais apresenta desafios significativos, como alinhar diferentes tecnologias, modelos e culturas empresariais. O êxito dessa união dependerá da capacidade de seus líderes e engenheiros, acostumados a competir, de colaborar eficazmente. Em muitos casos, equipes e projetos precisam ser alterados ou eliminados e executivos devem compartilhar poder. Além disso, a pressão para manter fábricas deficitárias operacionais pode dificultar a integração.
Consultores da indústria, como Thomas Stallkamp, alertam sobre a complexidade de tais fusões. “As montadoras são organizações grandes e complexas, com ampla equipe de engenharia e fábricas espalhadas pelo mundo. A fusão enfrenta muitos egos e disputas internas, o que torna a implementação muito desafiadora”, comenta Stallkamp.
A Honda e a Nissan, que já anunciaram colaborações em veículos elétricos, iniciaram diálogos sobre uma fusão que pode envolver também a Mitsubishi Motors, potencialmente reunindo as segunda e terceira maiores montadoras do Japão, atrás apenas da Toyota. Essa união poderia criar uma das três maiores montadoras do mundo em produção de veículos.
As discussões sobre fusão foram impulsionadas pelos desafios enfrentados pelas empresas no cenário global. As vendas de veículos caíram drasticamente na China, o maior mercado automotivo do mundo. A rápida transição dos consumidores para carros elétricos e híbridos plug-in colocou a Honda e a Nissan em desvantagem, já que suas ofertas nesse segmento são limitadas. Fabricantes locais, além da Tesla, têm se beneficiado dessa tendência crescente.
No último mês, a Honda previu uma queda de 14% no lucro líquido para o ano fiscal que termina em março, além de uma redução na previsão de vendas globais, que foram ajustadas de 3,9 milhões para 3,8 milhões, devido à queda de desempenho na China, um mercado que historicamente representava um terço de suas vendas.
A Nissan, por outro lado, enfrenta dificuldades ainda mais severas. Com um histórico de turbulência gerencial, a montadora viu sua participação de mercado despencar nos Estados Unidos, uma região crucial para seus lucros. No período mais recente, o lucro operacional da empresa caiu 90%, o que levou a Nissan a anunciar planos para demitir 9.000 funcionários globalmente e reduzir sua produção em 20%.
Embora uma fusão possa oferecer a oportunidade de desenvolver veículos elétricos mais rapidamente e de forma mais econômica, na prática, desafios similares têm sido enfrentados por outras montadoras. Parcerias, como a da Ford com a Volkswagen, resultaram em pouco ganho prático. A Honda tem um relacionamento com a General Motors, mas essa parceria não se expandiu além de dois modelos de SUVs elétricos atualmente em produção.
Analistas acreditam que a fusão poderia trazer benefícios, já que ambas as empresas têm linhas de produtos semelhantes focadas em carros e SUVs de pequeno e médio porte. A Nissan possui tecnologia para caminhonetes de grande porte que seriam valiosas para a Honda no futuro.
Ambas têm instalações de fabricação nos Estados Unidos, o que poderia permitir economias operacionais, como minimização de fábricas e demissões. No entanto, os desafios relacionados a essas medidas são iminentes, indicando que a resistência interna pode ser um obstáculo significativo.
A oposição política também pode complicar medidas de redução de tamanho. Historicamente, fusões, como a da Stellantis, resultaram em influências governamentais que impediram o fechamento de fábricas, levando a resultados mistos. Recentemente, a Stellantis enfrentou uma queda nas vendas, e seu CEO anunciou sua renúncia em meio a essa instabilidade.
Enquanto isso, o relacionamento da Nissan com a Renault, que a salvou da falência, tornou-se tenso ao longo do tempo, especialmente após a detenção de Carlos Ghosn. Hoje, a Renault mantém uma participação significativa na Nissan, mas as duas indústrias não colaboram tão intimamente quanto no passado.
Outras fusões bem-sucedidas incluem a Fiat Chrysler e a aliança da Hyundai com a Kia, demonstrando que, embora algumas parcerias tenham florescido, muitas outras falharam devido a conflitos de interesse e desajustes culturais. A Honda e a Nissan poderão precisar demonstrar que podem transcender tais obstáculos se decidirem prosseguir com essa fusão ambiciosa. Contudo, a questão persiste: a Honda realmente teria interesse em enfrentar os desafios atuais da Nissan?