A democracia é um sistema político fundamentado em direitos e liberdades, onde estes são amplamente defendidos e cada indivíduo é responsabilizado por suas ações e decisões. Neste contexto, a democracia estabelece um delicado equilíbrio entre liberdade e responsabilidade, que é essencial para o progresso de uma sociedade madura e emancipada.
Em contraste com regimes absolutistas ou ditatoriais, onde a vontade do povo é subjugada, a luta por democracias se baseia na crença de que todos têm a capacidade de raciocinar e buscar formas de convivência política que respeitem a liberdade individual. Essa autonomia nos liberta do fardo da obediência cega e do medo da divergência, tornando-nos responsáveis por nossas escolhas.
No entanto, surgem dificuldades quando alguns insistem em oferecer desculpas ou isenções a certos grupos, como “o povo” ou “os pobres”, por suas escolhas políticas. Tal perspectiva diminui a importância da responsabilidade individual dentro do processo democrático.
A esquerda, frequentemente, busca defender “o povo” —concebido como as classes menos favorecidas— mas enfrenta um desafio ao aceitar que esse grupo pode não corresponder ao mesmo amor. A postura de isentar essa classe de responsabilidade por suas escolhas eleitorais é comum, mas questionável.
Por outro lado, a direita, ao adotar teorias de conspiração que culpam um suposto esquema envolvendo a esquerda, universidades, globalismo e mídia, tende a deslegitimar as escolhas dos indivíduos. Essa narrativa sugere que, sob as atuais circunstâncias, a liberdade de escolha é ilusória e as pessoas não são realmente responsáveis por suas decisões.
A recente decisão do Congresso Nacional de considerar a anistia para aqueles envolvidos nos atos de 8 de Janeiro levanta sérias preocupações sobre o princípio da responsabilidade individual. Esses eventos, que visavam desafiar o resultado das eleições e tentar um golpe de Estado, não podem ser tratados como meras banalidades. A invasão dos Poderes da República pelos militantes não é apenas uma transgressão; é um ataque direto à ordem democrática.
Argumentar que os militantes não acreditavam estar vivendo em uma democracia não exime suas ações de responsabilidade. As crenças pessoais não se sobrepõem aos direitos coletivos e não justificam tentativas de interromper o processo democrático. Até mesmo atos de terror muitas vezes são guiados por convicções morais, mas isso não torna suas ações aceitáveis.
Conceder anistia enviaria uma mensagem errada: que tentar tomar o poder pela força é aceitável, desde que se pertença ao grupo certo. Essa ideia de impunidade para aqueles que desrespeitam as regras democráticas apenas fortalece a divisão e a recusa em aceitar resultados eleitorais, promovendo uma perigosa dinâmica de poder.
Essa proposta de anistia não é uma simples política; é uma negação clara da responsabilidade individual, disfarçada de justificativas que oferecem uma proteção inadequada para aqueles que violaram a ordem democrática. A responsabilidade política deve ser reafirmada para preservar a integridade do sistema democrático.