O ex-coach Pablo Marçal, que não se identifica como evangélico e já fez comparações entre igrejas a facções e times de futebol, é o candidato preferido entre os evangélicos na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Isso levanta questionamentos sobre o tipo de diálogo que ele tem com esses grupos religiosos e o que eles veem nele.
Um ponto chave para compreender essa relação é a Videira, igreja de Goiânia que celebrou seu 25º aniversário recentemente com um evento ao vivo. Marçal mantém um vínculo estreito com o pastor Aluízio Silva, fundador da Videira, e frequentemente menciona a importância desse mentor em sua trajetória.
Três conceitos principais ajudam a elucidar a influência dessa experiência em Marçal: pentecostalismo, prosperidade e o modelo de igrejas em células.
Sobre o pentecostalismo, embora a imagem comum seja a de fiéis fervorosos em adoração, é importante entender a insubordinação que caracteriza muitos desses religiosos, que desafiam convenções e hierarquias em nome de sua obediência a Deus.
Marçal exemplificou essa filosofia ao relatar sua experiência de ser impedido de concorrer à Presidência em 2022. Ele compartilhou em um culto: “Uma senadora me pediu para desistir da presidência e me juntar como vice, mas meu único compromisso é com meu chamado”. Ele acrescentou: “A perseguição só intensificou meu desejo de fazer o que é certo”.
Quanto ao conceito de prosperidade, muito presente em denominações como a Igreja Universal e a Videira, acredita-se que Deus recompensa a fidelidade com melhorias na qualidade de vida. Marçal promove essa ideia ao afirmar: “Quanto mais Deus te abençoa, mais você é perseguido. O nível de perseguição é proporcional à prosperidade que você alcançará”.
Como coach, Marçal aplica técnicas de programação neurolinguística para ajudar seus mentorados a desbloquearem potenciais pessoais, com o mesmo espírito das igrejas que visam a “ressurreição” de sua essência e missão no mundo.
O conceito de células é igualmente crucial. Na Videira, isso representa um modelo onde os fiéis atuam como empreendedores da fé, organizando grupos de louvor em residências. Nesse ambiente, Marçal aprendeu a evangelizar, liderar e expandir sua rede.
Marçal é visto como um candidato desafiador por integrar temas como defesa da família e oposição ao comunismo, que ele vê como um sistema que previne a autonomia econômica. Ele prega a importância de “aprender a pescar” em vez de depender do governo e se apropria da mensagem pentecostal de resistência à opressão.
Essa posição coloca seus oponentes em uma situação delicada, pois ao criticá-lo, eles também atacam as aspirações de muitos que se sentem perseguidos e veem no cristianismo uma oportunidade de prosperidade.