A educação no Afeganistão tornou-se um direito limitado, com acesso restrito apenas até a sexta série e barreiras ao emprego e espaços públicos, como parques e academias. As mulheres enfrentam severas restrições, incluindo a proibição de viagens longas sem a companhia de um parente masculino e a exigência de se cobrirem integralmente ao saírem de casa.
Um manifesto de 114 páginas, que codifica as normas do regime talibã, agora proíbe a voz das mulheres fora de casa, intensificando as limitações de liberdade já presentes desde que o grupo retornou ao poder.
A maioria dessas proibições já existia durante os três anos de governo talibã, afastando as mulheres afegãs do espaço público. Para muitas, a publicação desse novo documento representa o fim de esperanças e aspirações há muito nutridas.
Algumas mulheres ainda acreditavam que poderia haver uma reversão das restrições, especialmente após o Talibã mencionar a possível reabertura de escolas e universidades para meninas. No entanto, essa perspectiva de esperança foi severamente abalada.
“Estamos retrocedendo para os tempos em que as mulheres não podiam sair de casa”, afirmou uma jovem de 23 anos, refletindo sobre o período anterior a 2001. “Acredito que o Talibã tivesse mudado, mas estamos vivendo novamente os tempos sombrios do passado.”
Desde a retomada do poder em agosto de 2021, o Talibã tem gradualmente revogado direitos das mulheres, especialmente nas áreas urbanas, onde as conquistas dos últimos 20 anos eram mais visíveis.
Atualmente, o Afeganistão é considerado o país mais restritivo do mundo para mulheres, sendo o único a proibir o ensino médio para meninas, segundo especialistas.
As novas normas também suscitam preocupações sobre uma repressão mais severa por parte da polícia da moralidade, que atua para assegurar a conformidade com as leis impostas pelo regime.
O documento estabelece pela primeira vez os mecanismos de aplicação que podem ser utilizados por esses agentes, que agora podem não apenas advertir verbalmente, mas também apreender propriedades ou deter indivíduos por transgressões repetidas.
Analistas acreditam que a divulgação destas leis faz parte de um movimento mais amplo do regime para codificar o funcionamento do governo, refletindo uma visão extrema da lei islâmica que busca eliminar princípios ocidentais do sistema anterior.
O Talibã rejeita qualquer pressão do exterior, defendendo que suas normas são baseadas em ensinamentos islâmicos. Um porta-voz do governo afirmou: “O Afeganistão é uma nação islâmica; as leis islâmicas são inerentemente aplicáveis aqui.”
As novas diretrizes atraíram críticas de grupos de direitos humanos e organismos internacionais, denunciando a ampliação das restrições às mulheres como uma perspectiva desoladora para o futuro do país.
Visualmente, a presença feminina tem sido gradualmente eliminada, com rostos de mulheres sendo removidos de anúncios e murais, enquanto manequins são cobertos para ocultar sua forma.
O temor de represálias pela polícia moral é palpável, levando muitas mulheres a se isolarem e viverem uma vida cada vez mais restrita. “Vivo em casa como uma prisioneira”, compartilhou uma residente local.
A reversão dos direitos tem impactado severamente as jovens que cresceram em um contexto de oportunidades durante a ocupação. Algumas têm se adaptado, estabelecendo escolas clandestinas em casas ou acessando aulas online, apesar das dificuldades.
Uma jovem de 18 anos, determinada a continuar sua educação, encontrou formas criativas de aprender, solicitando aulas de colegas no exterior. “Temos que ser corajosos, mesmo na depressão constante”, declarou.
Outra mulher de 43 anos, que dedicou sua vida ao trabalho humanitário, agora enfrenta desafios imensos para sustentar sua família após a imposição das novas restrições. “Sinto falta dos dias em que eu era alguém, quando podia trabalhar e contribuir”, lamentou.