O Brasil enfrenta um desafio crucial na luta contra o aquecimento global, que exige uma reavaliação da estratégia de combate aos incêndios florestais. Isso envolve não apenas a adoção de técnicas mais modernas e eficazes, mas também o fortalecimento do mercado de carbono, ponto destacado pelo CEO de uma produtora de etanol.
Ricardo Mussa lidera uma força-tarefa empresarial que apresentou recomendações aos governos do G20 sobre transição energética e questões climáticas. Nos próximos dias, ministros dos países do G20 se reunirão em Foz do Iguaçu, Paraná, para discutir essas propostas e outras preocupações relacionadas à crise de incêndios no país.
A proteção e restauração das florestas, definidas como Soluções Naturais para o Clima, são centrais nas iniciativas de descarbonização propostas. Mussa enfatiza que a crítica mais relevante ao Brasil em termos de mudanças climáticas está relacionada ao desmatamento.
“Precisamos repensar nosso modelo de combate a incêndios e adotar novas tecnologias que sejam mais eficazes”, afirma Mussa. “Usar caminhão-pipa para apagar incêndios é apenas uma medida temporária; precisamos atacar a raiz do problema”.
Ele também considera o desenvolvimento do mercado de carbono um caminho vital para o Brasil na pauta climática, destacando que o país não pode resolver a questão sozinho e precisará de apoio internacional para a criação de um mecanismo sólido que beneficie a conservação das florestas até 2030.
O Brasil tem a oportunidade de liderar o diálogo global sobre a preservação das florestas, apesar dos incêndios que assolam o país. A lentidão das ações internacionais tem contribuído para a intensificação desses eventos climáticos extremos, que apresentam um ciclo de enchentes e secas. “Isso é uma consequência da mudança climática. O Brasil não é o maior poluidor, mas ainda precisa agir”, observa Mussa.
Quais são as ações necessárias para enfrentar este desafio?
“O Brasil deve reconsiderar, tanto o setor público quanto privado, como se preparar para as mudanças climáticas. No setor sucroalcooleiro, por exemplo, milhares de brigadistas estão sendo expostos a riscos, e novos métodos de combate precisam ser desenvolvidos, reconhecendo que estamos lidando com um novo normal.”
O mercado de carbono no Brasil está funcionando efetivamente?
“O RenovaBio é um programa implementado, embora não seja um verdadeiro mercado de carbono. No entanto, ele enfrenta desafios grandes, como fraudes e limitações que algumas distribuidoras tentam contornar, colocando sua sustentabilidade em risco.”
Como podemos mitigar esses desafios?
“É fundamental que haja segurança em relação às metas estabelecidas, evitando alterações constantes. Propostas atuais incluem tornar o descumprimento de metas um crime ambiental, uma medida para responsabilizar quem não cumpre com suas obrigações.”
Quais são as recomendações para o G20?
“As nações devem comprometer-se a aumentar a produção de energias renováveis e melhorar a eficiência energética. Um exemplo disso é a indústria canavieira, que pode se beneficiar muito com a eletrificação dos processos…”
Oportunidades no Brasil
“O Brasil deve explorar fontes de energia acessíveis para desenvolver indústrias locais, como a produção de aço e combustíveis sustentáveis. Transformar o Brasil em um centro de exportação é uma oportunidade que não deve ser desperdiçada.”
Perfil Resumido | Ricardo Mussa, 49
Formado em engenharia de produção pela Escola Politécnica da USP, Mussa possui uma vasta experiência em multinacionais e, desde 2020, ocupa a posição de CEO na empresa de etanol.