As enchentes de maio no Rio Grande do Sul deixaram um rastro de destruição, afetando ruas, estradas, pontes e propriedades. No entanto, um acontecimento notável surgiu das consequências da inundação. Em uma plantação de arroz em Dona Francisca, a 255 km de Porto Alegre, uma cratera aberta pelas águas revelou um sítio arqueológico com vestígios de ocupação humana que datam de 10 a 12 mil anos.
O agricultor Diogo Fernandez encontrou centenas de fragmentos de pedra lascada e potes de argila enquanto inspecionava sua lavoura. Reconhecendo a importância histórica dos artefatos, ele notificou a Secretaria de Cultura do município, que imediatamente contatou pesquisadores para uma análise emergencial.
Os arqueólogos e historiadores realizaram uma tarefa urgente de resgate dos artefatos antes que novas enchentes pusessem tudo em risco. A equipe encontrou 130 fragmentos de pedra lascada, incluindo espécimes de calcedônia, e 469 fragmentos de cerâmica, com evidências de ocupação por pelo menos duas culturas distintas ao longo de milênios.
Os fragmentos de pedra, utilizados para criar ferramentas como pontas de flechas, são indicativos de grupos de caçadores-coletores que habitaram a região nos primórdios da ocupação humana. Os vestígios cerâmicos, por sua vez, são atribuídos aos guaranis, que ainda habitam o Rio Grande do Sul atualmente e eram conhecidos por suas práticas de horticultura e cerâmica de alta qualidade.
A pesquisa revela que estas populações tinham uma ocupação sazonal em áreas ricas em recursos naturais, como às margens dos grandes rios, e imigraram da Amazônia há aproximadamente 5 mil anos. A descoberta é considerada significativa para a compreensão das interações sociais e culturais antes da chegada dos europeus e da colonização.
A importância do sítio arqueológico de Dona Francisca é destacada pelos pesquisadores, que afirmam que a descoberta fornece uma visão profunda sobre a presença indígena na região. Embora existisse conhecimento sobre a presença de povos antigos, a quantidade de artefatos agora exposta é sem precedentes e abre novas oportunidades para pesquisas futuras, dependendo do financiamento disponível.