Pesquisadores fazem uma descoberta revolucionária ao extrair o que é considerado o gelo mais antigo do mundo, com cerca de 1,2 milhão de anos, encontrado a profundidades impressionantes na Antártida.
Operando em temperaturas extremas de -35°C, a equipe científica conseguiu retirar um núcleo de gelo medindo 2,8 km, equivalente a mais de oito torres Eiffel colocadas lado a lado.
Dentro desse gelo, bolhas de ar preservadas estão sendo estudadas para desvendar importantes segredos sobre a história climática da Terra.
Cientistas de diversos países europeus trabalharam arduamente ao longo de quatro verões na Antártida, competindo para chegar à rocha subjacente do continente gelado.
Esse trabalho pode esclarecer um dos maiores enigmas climáticos: o que ocorreu entre 900 mil a 1,2 milhão de anos atrás, quando os ciclos glaciares mudaram drasticamente e os ancestrais humanos estavam sob ameaça de extinção.
“É uma conquista incrível”, afirma um dos coordenadores do projeto, ressaltando a importância da amostra de gelo, que fornece uma visão direta de eventos ambientais de um milhão de anos atrás.
A expedição, liderada por um instituto de ciências polares, contou com a colaboração de dez países europeus.
O acesso ao local de perfuração, denominado Little Dome C, exigiu o transporte de equipamentos e laboratórios por 40 km em veículos de neve, situada a quase 3.000 m de altitude no platô antártico.
Os núcleos de gelo são fundamentais para entender as alterações climáticas, retendo bolhas de ar e partículas que refletem os níveis de gases de efeito estufa e variações de temperatura ao longo do tempo.
Dados de núcleos anteriores ajudaram a comprovar que o aquecimento atual está ligado a emissões de gases resultantes da queima de combustíveis fósseis.
Com o novo projeto, intitulado Beyond Epica: Oldest Ice, os pesquisadores têm agora a oportunidade de explorar mais 400 mil anos da história climática da Terra.
“Estudamos o passado para melhorar nossa compreensão do clima e prever futuras mudanças”, destaca um especialista envolvido no projeto.
A equipe enfrentou intensas expectativas enquanto realizava a perfuração, descobrindo que puderam acessar camadas mais profundas do que os dados anteriores indicavam.
O núcleo foi cuidadosamente removido e está sendo transportado em pedaços de um metro para análise em várias instituições científicas na Europa.
Os pesquisadores focalizam um período crítico entre 900 mil e 1,2 milhão de anos atrás, conhecido como Transição do Pleistoceno Médio, uma época de mudanças climáticas significativas.
Esse período é intrigante, pois coincide com teorias que sugerem que os humanos quase enfrentaram a extinção, reduzindo sua população a cerca de mil indivíduos.
Embora não haja certezas sobre vínculos diretos entre eventos climáticos e essa quase extinção, a pesquisa promete ampliar a compreensão sobre a complexa interação entre clima e vida humana ao longo da história.
“O que a equipe descobrirá ainda é um mistério, mas sem dúvida expandirá nossa visão sobre a história do planeta”, conclui um especialista que acompanha o projeto.