Documentos cruciais sobre a prisão do ex-deputado Rubens Paiva, cuja trajetória foi retratada no filme “Ainda Estou Aqui”, estão em risco de deterioração devido às inadequadas condições do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. A declaração foi feita por Victor Rosa Travancas, que foi exonerado do cargo de diretor-geral da instituição pelo governador do estado.
Travancas foi demitido após decidir fechar o arquivo, alegando problemas estruturais graves.
Além dos documentos relacionados a Rubens Paiva, que foi sequestrado e assassinado durante a ditadura militar, outros arquivos da mesma época também correm o risco de se perder. A Casa Civil do estado foi contatada para comentar sobre a situação dos documentos e está aguardando um retorno.
Nomeado para o cargo em dezembro, o ex-diretor-geral afirmou que a interdição do prédio era uma medida necessária para evitar riscos de desabamento. Ele alertou sobre umidade excessiva em salas de arquivos, pisos danificados e fissuras em pilastras de sustentação.
Em nota, a Casa Civil afirmou que a decisão de fechamento foi “unilateral” e ocorreu “sem consulta ao governo e sem aprovação dos órgãos competentes”.
Um comunicado da secretaria indicou que o Arquivo Público possuía laudos e certificados de aprovação válidos e havia passado por inspeção do Corpo de Bombeiros, que não identificou risco iminente que justificasse o fechamento do prédio.
Documentos apresentados pelo governo confirmaram que o edifício estava apto para funcionamento, embora um laudo indicava fissuras na laje de uma sala, enfatizando que tal anomalia não prejudicava a utilização do espaço. Os sistemas de hidrantes, ventilação e alarme também estão em pleno funcionamento.
O Arquivo Público do Estado do Rio, fundado em 1931, passou por várias sedes e desde 1998 está localizado em um prédio na Praia de Botafogo, que anteriormente servia como subestação de bondes. Este arquivo foi o primeiro a receber documentos do Dops (Delegacia de Ordem Política e Social) após o fim da ditadura, preservando ainda importantes registros históricos, incluindo mapas do século 18 e documentos sobre migração e posse de terras.
Travancas alertou sobre a gravidade da situação, comparando-a ao trágico acidente no Museu Nacional. “Estamos à espera do pior. Ali é apenas papel, não há como salvar”, disse ele.
Uma visita ao Arquivo Público realizada recentemente revelou que os servidores estavam em atividade e atendendo pesquisadores, apesar das alegações de risco.
A Associação Nacional de História (Anpuh) também se manifestou, informando que “não foram apresentados documentos das autoridades que justificassem essa medida drástica”. Beatriz Kushnir, presidente da seção Rio de Janeiro da entidade, ressaltou a necessidade urgente de investimentos na preservação de arquivos públicos, alertando que o abandono dos arquivos no Brasil é resultado de uma falta de atenção aos recursos destinados a sua manutenção e digitalização.