Em 1989, o Brasil vivia um intenso momento de transformações políticas e sociais com as primeiras eleições diretas para presidente após a ditadura. Nesse contexto, o poeta curitibano Paulo Leminski lançou seu livro “Distraídos Venceremos”, que refletia as mudanças do país e brincava com o slogan “unidos venceremos”.
Na antologia, destaca-se o poema “A Lua no Cinema”, onde Leminski, que se tornaria uma das vozes mais icônicas da poesia marginal, narra de forma lúdica a visita do nosso satélite natural a um cinema para assistir a um filme sobre uma estrela solitária.
Inspirado por este poema, o escritor e editor Alonso Alvarez decidiu criar uma edição artesanal para presenteá-la à filha de Leminski, Estrela, quando ela tinha apenas oito anos. Alvarez utilizou materiais como cartolinas coloridas e letras brancas para confeccionar o livro, que foi bem recebido pelo poeta, que sugeriu sua publicação.
Dessa maneira, “A Lua no Cinema” foi transformado em um livro ilustrado, lançado em 1989 pela editora Artes Pau-Brasil, sob a direção de Alvarez. A editora ganhou notoriedade por acolher diversos nomes da literatura e teatro em sua unidade de Bexiga, em São Paulo, que funcionava somente à noite.
Infelizmente, Leminski faleceu em 1989, aos 44 anos, devido a cirrose hepática. “Distraídos Venceremos” foi seu último trabalho publicado em vida. Este sábado, 24 de setembro, commemoraria seu 80º aniversário, e em respeito à data, “A Lua no Cinema” ganha uma nova edição ilustrada voltada para crianças, agora com ilustrações de Marcio Levyman, publicada pela Ficções, projeto editorial de Alvarez.
A motivação para o relançamento surgiu com a realização do Festival Paulo Leminski em Curitiba, que celebra a efeméride. Alvarez revela que fez toda a direção de arte respeitando o projeto original, unindo elementos lúdicos e poéticos com a astronomia, referindo-se à obra como um “livro antiterraplanista para a infância”.
A nova edição, em contraste com a de 1980, apresenta um estilo mais colorido e bem-humorado, saindo das cores chapadas e formas geométricas para um design mais psicodélico e vibrante.
Levyman transforma o céu em uma explosão de espirais arroxeadas, incorporando elementos divertidos que engajam o leitor, como baleias, constelações e astronautas, criando um verdadeiro espetáculo visual que acompanha os 16 versos do poema sobre a Lua cinéfila.
Além das belezas visuais, “A Lua no Cinema” ressalta a importância da poesia de Leminski ao se tornar um livro ilustrado voltado para o público jovem — um caminho que poderia ser explorado ainda mais na literatura infantojuvenil. Os versos fluidos, melódicos e repletos de humor afiado fazem com que a obra continue conquistando novos leitores.
Embora Leminski tenha se tornado uma presença marcante na literatura brasileira contemporânea, ainda há espaço para suas obras serem mais reconhecidas entre as crianças, um público que certamente apreciaria seus poemas ilustrados.
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